terça-feira, julho 25, 2006

Uma vida em rascunho...

A foto estática, sorrisos inalterados, inacabados, perdidos em um domingo qualquer, engolidos pela poeira da última década, explicitando felicidade hipócrita. Alguém chorou, alguém pediu, alguém balbuciou seu primeiro som, alguém fez do travesseiro seu único amigo e companheiro.
E aquela ausência..., sendo mais uma vez ausência, e repetindo-se como temível e inevitável ausência. Romance triturado, mastigado, corroído, sofrendo processo erosivo. "Até que a morte os separe", e não foi ela que os separou, esteve próxima em noites de desespero, mas não foi ela que os separou.
Trabalho melhor, futuro melhor, vida melhor, busca eterna por ascensão, ganância inconsciente. Escravidão temporal, doutrina do relógio, turbulência noturna. Pijama pelo chão, camisa amassada, pasta abarrotada, na torrada um vestígio de manteiga, no criado um bilhete desolador.
Novamente a barriga crescendo, telefone fora do gancho, na cama uma agulha de tricô. Um soluço, uma lágrima e algumas drágeas dispersas no colchão. Mamadeira, chocalho, pacote de fraldas, boneca de pano, primeiro sutiã, chave do carro, coleção de namorados, abandono do lar. Tempo perdido, assinatura no contrato, solidão como única companheira, a lembrança que não ficou, a espinha que não secou, o fato que não fora fato, a história acabada no meio da folha, uma vida roída por traças, a antagonista que ninguém assassinou.

6 Comments:

Brena Braz said...

Pequena brilhante, conheco alguem com seu sobrenome... soh nao me lembro quem...
Volto pra contar assim que me lembrar... rs
Beijos

Anônimo said...

...E um grande mistério a desvendar.

Ná Jornalista web said...

Forte...foi a palavra que escolhi p/ "definir" seu texto, mesmo sem ter essa necessidade!
Amo vc e tô c/ muitas saudades,flor =/
se cuide!
Beijos Ná Carvalho

Anônimo said...

Gostei muito... " a antagonista que ninguém assassinou..."...perfeito!

Anônimo said...

Voltando das férias... matando saudade! Pelo que vejo você também está ausente. Espero que estejas em deliciosas férias, passeando, curtindo a vida, reciclando sentimentos, e se preparando para voltar e nos brindar com textos tão profundamente belos, como só tu sabes fazer.

Este de agora, surpreendeu o olhar e bateu forte no coração. Um texto denso, pesado, sofrido, no qual destaco esta parte:

"Até que a morte os separe", e não foi ela que os separou, esteve próxima em noites de desespero, mas não foi ela que os separou."

Um texto que diz bem da força da solidão, da saudade, do martírio que é ter que se (con)viver com as lembranças deixadas pelo ser amado.

Volta logo, amiga querida, pois além de fazer falta a preciosa leitura que teu talento nos propicia, também fazes falta por ser essa pessoa linda que és.

Ficam beijos, sorrisos e flores, para enfeitar o teu caminho de volta.

Anônimo said...

Alguém chorou, alguém pediu, alguém balbuciou, alguém fez do travesseiro seu único amigo e companheiro.
Essa foi eu....
bjus

 
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