quarta-feira, junho 18, 2008

A Testemunha

Sorrisos, choros, confissões. Um olhar, muitos olhares. Momentos de solidão, de contemplação e até mesmo de reprovação. Mais do que presente nas longas noites insones. Algumas pessoas podem ser capazes de passar boa parte de suas vidas o evitando. Mas ele sempre fiel, está lá, notando, anotando, guardando cada movimento, gesto, expressão. Uma imagem fixa.
Tantas confidências, tantas mentiras contemplativas, tantas verdades ocultas, tantas omissões, conversas agradáveis ou não pela madrugada a dentro.
Aliado das coisas boas, rival das coisas ruins. Desafiador e calado, é capaz de julgar e só ele faz isso com tanta delicadeza e destreza.
Testemunha oculta e imperceptível. Um passado cheio de detalhes. Nem um sagrado confessionário guardaria tantos segredos quanto ele. São incontáveis as lembranças de um espelho.

terça-feira, maio 13, 2008

Mentiras ao acaso


Palavras desconexas que não fazem o menor sentido e por acaso redescubro-os. Também ao acaso descubro o novo, os pés e as mãos.
O que antes julgava ser meu, que apenas para mim havia definição, por acaso não tem mais significado algum. Sinto que não sinto, que não mais me é perturbador.
Ao sentimento não atribuo mais a culpa, deixo que a culpa se atribua ao contexto.
A mente, mente por mentir. Sem aviso, sem nexo, sem vergonha. Engana a mim e ao que ouve o que tenho a dizer. Mas nessa culpa não há mentira. Não nessa. Não sou eu que quero enganar, nessa confusão também sou vitima.
E por mentir, a mente prega peças. Puxa o tapete sem o menor pudor me desafiando a acreditar. E por acaso acredito.

Chamam a isso de ilusão, eu, a isso, chamo de paixão que cega, sobrevive pelo acaso. Não tem hora, nem lugar, nem dia e nem menos clichês. Casualmente chega e se instala. Impossível passar desapercebida. No começo, até se camufla nas entrelinhas, mas na mentira da mente encontra forças e se alia para a conquista de território. E está declarada a guerra.

segunda-feira, maio 05, 2008

Desabafo

O texto que postarei abaixo foi escrito há mais de 6 anos e estava perdido em uma agenda antiga.



Não dá mais pra aguentar esse sentimento que tanto me machuca.

Um sentimento que deveria ser bonito e sustentado pelos dois,

Agora desmorona pois sozinha eu não consigo!

Já pensei em desistir, não por não Ter forças pra lutar e sim por não Ter mais forças pra sofrer! Preste atenção no que está fazendo, vc não sabe a falta que vou te fazer!

Pode parecer prepotencia minha dizer tudo isso, mas a situação já se tornou insustentável!

Quando vc está com alguém, meu coração apreta e parte-se ao meio ,

Vendo vc em um abraço que não nem um pedacinho do meu! Chega!

Uma coisa que deveria ser saudável,

Torna-se agora algo que corrói, destrói!

Não sei serei capaz de segurar as palavras de ódio que parecem querer saltar da minha garganta num grande impulso, mas sei que sou incapaz de dizer uma única palavra atravessada quando se trata de vc!

Não me faça mais chorar, não me busque mais em sonhos, não siga mais meus pensamentos, não quero mais sofrer!

Odeio tudo, tudo, mais ainda o fato de não conseguir te esquecer!


sexta-feira, março 28, 2008

Mundo Moderno (Chico Anysio)


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias. Majestoso manicômio.
Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio (maior maldade mundial).
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna, monta matungo malhado, munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior.
Manhãzinha move moinho moendo macaxeira (mandioca). Meio dia mata marreco mas já melhorzinho. Meia noite mima mulherzinha mimosa. Maria Morena, momento maravilha, motivação mutua mas monocórdia mesmice.
Muitos migram. Macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente. Malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais desprezo.
Metade morre.
Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas mariposas mortificando-se moralmente.
Modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.
Mundo medíocre.
Milionários montam mansões magníficas, melhor mármore, mobília mirabolante, máximo da megalomania. Mordomo, Mercedez, motorista, mãos magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando.
Moradia meiagua, menos, marquize.
Mundo maluco, maquina mortífera.
Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos, maldito mundo modermo. MUNDINHO DE MERDA.

Chico Anysio

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Letras de mão ou de forma?


Caneta esquecida, caderno de lado, semi-analfabeta na arte de desenhar as letras. As palavras parecem que fogem a medida que cada haste surge. Não há botão de apagar, apenas o rabisco como aliado para “desescrever”.
Garrancho, vários rabiscos, sem corretor ortográfico automático. Letras de mão ou letras de forma? Até a gramática manual é preguiçosa. E que experiência esquisita essa de voltar a escrever “à unha”. O último contato com a caneta ou foi para anotar rapidamente um telefone ou para assinar um cheque...quando muito, escrever um bilhete.
Tecnologia da preguiça. O pecado capital como efeito colateral da modernidade, coisa que ninguém previa.
Hoje é um tal de celular que faz café, TV que sente cócegas, abajur que canta canções de ninar e tantas outras esquisitices que até da pra esquecer que o ser humano anda e fala.
Daqui alguns anos talvez a genética mude e a forma humana se adapte nascendo com os dedos quadrados e achatados, prontos para apertar botões. Botão para dormir, botão para acordar, para ir ao banheiro, para engordar e até mesmo para emagrecer (o que seria um ótimo álibi para a publicidade dos fast-food´s).
Entretanto, o cérebro humano provavelmente não acompanhará tais avanços. Já não acompanha simples modificações no cotidiano.
Muitos hábitos podem ser modificados, mas alguns velhos costumes perpetuam através dos tempos.
Não há um botão “delete” para as palavras proferidas, não há tecla “sap” para sentimentos incompreensíveis, não há “rec” que eternize lembranças e não há “copy” para que um ser seja idêntico ao outro.
Modernidade até que é bom, mas ser escolado em coisas simples da vida é melhor ainda.


sábado, julho 21, 2007

Pela Janela


A calmaria daquele rosto na janela, não revelava nenhum tipo de paz. Era o único rosto naquele dia, o único naquela hora, assistindo a todos que voltavam apressados para casa, tentando fugir da chuva. Mas era justamente por trás daquele rosto inerte na janela, por onde parecia se mover um verdadeiro temporal.
Foi em um dia chuvoso como esse que se conheceram. Namoraram, curtiram a vida da melhor forma possível e casaram-se dois anos depois. Nadia amava Marcos de forma incondicional e Marcos retribuía à altura.
Ela recordava tudo naquele breve instante em que olhava pela janela e já não era dona dos seus próprios sentidos. Ela guardava aquele segredo há anos e não poderia mais conviver com aquela tortura. Seus músculos enrijeciam-se à simples idéia de como ele reagiria. Envolta nesta atmosfera chuvosa, como uma criança que se esconde sob o cobertor da própria cama, ela decidiu que até o fim da chuva deveria concluir o que fazer.
Não pensou muito, pois tal ato a impediria de cumprir com sua obrigação de não mais lhe omitir a verdade. É fato que já haviam passado-se anos após o ocorrido, mas Nadia estava decidida a dividir o fardo que carregava sozinha. Não poderia imaginar a reação de Marcos depois de tanto tempo e nem gostaria de assim fazer.
Foi até a mesinha de cabeceira de seu quarto com pouca luz e que cheirava a cigarro e da segunda gaveta tirou um caderno muito velho onde anotava os números de telefones. Procurou pela letra M e logo na primeira linha da folha encontrou o numero de Marcos. Lembrava-se exatamente do dia em que anotara aquele numero ali.
Respirou fundo, riscou um fósforo e sem pestanejar telefonou:
- Marcos?
- Sim, quem fala?
- É Nádia.
Embora tentasse esconder o nervosismo, Marcos não conseguiu conter a respiração ofegante.
- Olá Nádia, quanto tempo.
- Tempo mesmo. Estou precisando conversar com você. E precisa ser hoje, espero que tenha tempo.
- Hoje? – pestanejou um pouco, mas concluiu – Daqui à uma hora pode ser?
- Ótimo! Onde é melhor pra você?
- Pode ser na sua casa?
- Perfeito!
- Mas não vou poder demorar muito!
- Pretendo não demorar mais que 10 minutos para falar-lhe.
- Me espere então!
- Ok.
- Até mais.
- Até.
Colocou o telefone no gancho e tentou conter as lagrimas de desespero que escorriam-lhe à face. A esta altura o cigarro em que acendera já queimava sozinho no cinzeiro. As horas se arrastavam e sua angustia aumentava. O tic-tac dos ponteiros eram como marteladas em sua cabeça confusa. Por onde começaria? Com se explicaria, se é que havia uma explicação para aquilo tudo?!
Próximo a hora marcada, ela deu uma olhada rápida no espelho por uma ponta de vaidade que existia ao saber que iria encontra-lo. Enfim a campainha tocou. O corpo de Nádia estremeceu inteiro e ela não conteve o desespero. Titubeou e por um momento pensou em desistir da idéia. Mas não. Agora que havia começado, teria que ir até o fim.
Aproximou-se da porta e colocou as mãos sobre ela como se tentasse sentir as vibrações que vinham do outro lado. Com uma das mãos na maçaneta virou lentamente e a abriu da mesma forma. Do outro lado da porta havia um homem que há muito Nadia não via. Marcos estava mais velho e com feições de preocupação com o chamado inesperado.
Marcos entrou e Nadia o deixou a vontade oferecendo seu velho sofá azul para que ele sentasse. Ofereceu-lhe uma bebida mas ele recusou dizendo ter pressa.
Nadia começou então a falar-lhe com um pesar imenso na voz, quase choramingando. Ele engolia cada palavra que saia daquela boca prestando muita atenção no discurso de Nadia.
Era o que Marcos temia, ela enfim tocara no assunto da separação. De fato ele não queria de forma alguma reviver os últimos momentos que estiveram juntos, mesmo porque, tudo aquilo era muito doloroso para ambos. Nadia mal entrou no assunto e Marcos inquieto consultou o relógio, como querendo fugir da própria realidade. Não dera tempo de Nádia se explicar e num súbito se levantou dizendo não querer saber daquela história. Em meio a insultos por parte dele e um choro compulsivo por parte dela Marcos saiu sem olhar pra trás dizendo que o que ela tinha feito com ele há 14 anos não tinha perdão.
Nádia até tentou ir atrás dele, mas suas pernas a traíra. Em fração de segundos revivera o ultimo dia que o vira e a noticia que ela jamais deveria ter dado gritava em sua cabeça.
Ela sabia muito bem do sonho de Marcos em ser pai, revivia cada instante daquela ultima vez. Talvez por ingenuidade e pouca idade, caíra na besteira de, na época, contar a Marcos que havia abortado uma criança, mas não era exatamente isso que a castigava tanto durante tantos anos.
Num súbito, Nadia correu até a janela e gritou para Marcos que se aproximava do seu carro para ir embora daquele lugar.
- Fiz o que fiz por amor. O filho não era seu.Talvez até tenha piorado as coisas dizendo isso. Mas o que sentia agora era seu resto de vida se esvair junto com a chuva que caia pela janela.


quarta-feira, julho 18, 2007

Quarto 23


Acendeu um cigarro, talvez o décimo daquela noite. As mãos estavam visivelmente trêmulas. Nos olhos, um misto de medo e euforia. Deitou-se na velha cama rangente do hotel e consultou o relógio. Só depois deu uma olhada nas paredes e no teto. O cheiro de mofo daquele quarto entravam por suas narinas e invadia seus pulmões provocando-lhe um enjôo inconsciente. O estomago reclamava, mas o externo nem ao menos sentia. Estava anestesiado, em choque.
O telefone, ao lado da cama, berra ao seu lado em vão, Armando não cede ao chamado. Na realidade, nem nota que o telefone está tocando.
Da janela do terceiro andar quase não dava para ver nada. As poucas luzes que invadiam o quarto iluminavam os tacos quase descolados do chão e o velho espelho já manchado pelo tempo. A lua, mais cheia e clara do que nunca, flutuava e testemunhava sem saber que ali, naquele quarto, estava um homem de 47 anos decidindo o resto de sua vida.
Mas a decisão distanciava-se cada vez mais. As horas se arrastavam, denunciadas pelo relógio de pulso que Armando consultava a cada longos cinco minutos.
Parecia mais uma espera do que uma decisão. Até poder-se-ia dizer uma terrível decisão.
Levantou-se em súbito e foi até seus pertences que se encontravam recostados na cadeira de madeira escura no canto do quarto. Tirou os sapatos, as meias, em seguida, a camisa. Deu uma olhada pela janela e por um breve instante esqueceu-se de seu real propósito de estar ali. Começou a lembrar-se da vida fora daquele quarto e antes daquele dia. Era um homem solitário, que já fora muito bem sucedido. Hoje, sem esposa que o deixara por ganância, sem filhos, pois era estéril, vivia na ilusão das mascaras sociais. Achava que um dia ainda poderia reconstruir tudo aquilo que um dia perdera numa mesa de pôquer. Aparentemente feliz, tendo seu velho gato Bill como único confidente, por vezes se esquecia do seu triste destino. Sofria de uma grave doença nos pulmões.
Porque fora se lembrar disso agora? Sentia-se sufocar só de pensar em sua doença. Os médicos já haviam garantido apenas mais alguns poucos meses de vida. E ele tinha que se decidir antes de amanhecer.
Um choro compulsivo invadiu suas entranhas e tomou conta do seu semblante que agora era desesperador. Com as mãos suadas e a respiração ofegante, abriu sua maleta e dela retirou três objetos. Um bloco de notas, uma caneta e um revólver. Por alguns minutos, contemplou o ultimo objeto retirado da maleta com uma expressão insana nos olhos. Vidrado, repousou a arma na escrivaninha e apanhou os outros dois objetos. Parecia enfim ter se decidido. Rabiscou algumas poucas palavras. Foi até a mesinha de cabeceira onde estava o telefone e o cinzeiro imundo e apanhou um papel que ele mesmo deixara lá ao chegar. Deu uma breve olhada ao redor, e em seguida no papel. Ficou a contempla-lo por um breve momento. Titubeou. Tentou raciocinar mais um pouco, mas o impulso foi mais forte. Apressou-se até a janela, apanhou o bloco de notas, colocou o papel da cabeceira junto ao bilhete recém escrito e sem pestanejar, engatilhou o revólver e tirou a própria vida com um tiro no peito. Lentamente, caiu sobre o assoalho empoeirado. Seu sangue começara a se espalhar logo.
O dono do velho hotel, que ouviu o estalo da bala perfurando o peito do hóspede, chegou rápido ao quarto 23. Sabia que o som vinha de lá, pois naquele dia (como eram quase todos os dias) o hotel estava vazio. Deu três breves batidas na porta e não obteve resposta. Aflito, resolveu entrar assim mesmo. A porta estava apenas encostada. Ao ver a cena bizarra de um suicida, entrou em estado de pavor. Correu até ele para se certificar de que estava mesmo morto. Ao se aproximar, o bloco de notas em cima da mesa chamou sua atenção. Tomou-o nas mãos e mal podia conter o desespero misturado com alegria ao ler o bilhete:
“Não poderei gozar de tal privilégio. Você que me encontrou fará mais bom proveito disso do que eu! Antecipei minha morte e ao mesmo tempo sua alegria. Armando”
O papel junto ao bilhete confundiu ainda mais o dono do hotel. Não conseguia entender porque alguém se suicidaria por conta disso. Era contraditório. Ninguém, até hoje, nunca se matou ao ter nas mãos o bilhete premiado de uma loteria milionária. Mas Armando foi diferente.

Operação Faxina...


Arrasta os móveis, enrola tapete, pega o espanador, a vassoura, os panos, o rodo, os baldes e mãos a obra. Tirando quase dois dedos de pó desse blog fico quase envergonhada do estado em que ele estava.

Agora posso receber novamente os amigos. Fiz a reforma e já está tudo em seu devido lugar.

Respirem fundo, sintam o cheirinho de tinta fresca que está aqui...dá até gosto não é mesmo?!

De volta a ativa após férias prolongadas do mundo blogueiro!!!

Ok, ok, mereço puxões de orelha por ter me ausentado tanto, e olha que nem tive motivos para isso. Não tive filhos, não casei, não terminei namoro (e nem comecei), não estava com o braço quebrado, não estava doente. Estava apenas sumida. Parafraseando Elisa Lucinda, resolvi dar uma morrida por uns tempos..

 
Layout By Natalia Gregolin