terça-feira, junho 27, 2006

O poeta mudo


Enquanto chora o violão eu penso. Penso nas alegrias, na vida que passa sem que ao menos déssemos conta. Penso nos dedos do violonista que corre pelas cordas entoando um sentimento indescritível, nada se sabe sobre a vida do poeta mudo, que utiliza da voz de dentro e não aquela conhecida voz das palavras.
E viajo junto com ele enquanto um cigarro queima esquecido no cinzeiro. Seriam das noites frias e insones que viriam a inspiração para se dizer de amor ou ódio sem dizer uma palavra sequer? Ou viriam de dentro de uma caixa que o compositor guarda dentro do seu violão junto com as lembranças?!
Nada se sabe sobre o poeta mudo, sobre o poeta que sem as palavras que não fazem a menor falta diz mais do que se usasse tantas mil. Não se sabe da dor ou da alegria que sentia ao dedilhar doces palavras mudas no seu violão.
O sentimento do instrumento invade meu ouvido como se quisesse reger as batidas do meu coração, me conta histórias tristes e alegres, histórias de amor e ódio, basta eu me permitir ouvir e entender da maneira que me for propícia neste momento.
O chiado do velho vinil me faz refletir sobre quão velho é o sentimento. Alguns anos se passaram e ao ouvir os típicos chiadinhos que se confundem com as notas penso que o tempo jamais desvirtuará o caminho do amor, do ódio, da alegria ou da tristeza. O sentimento não envelhece, com o tempo torna-se mais belo e fortalecido, com capacidade de diversas interpretações e formas de se sentir. Sentir aqui também com a conotação de ouvir, ouvir a voz de dentro que conduz a trilha sonora de uma vida toda. Como as notas daquela bela música que tudo diz sem mencionar uma única palavra, levemos assim nossas vidas, entreguemo-nos nas mãos do compositor e deixemo-nos levar sendo entendidos facilmente.

Homenagem ao violonista e compositor Baden Powell

10 Comments:

Anônimo said...

E que bela homenagem prestaste! à exemplo dos dedos que dedilham tão belas canções que te inspiram, tu, amiga, colocando toda a emoção na ponta dos dedos, fizeste o mesmo que o violonista - só utilizando uma forma de expressão diferente... mas sempre elas, as mãos, humanamente divinas, a serem os instrumentos da alma.

Ná Jornalista web said...

sentimento não envelhece...gostei disso!tô pensando ainda, se concordo c/ vc, mas c/ seu poder de persuasão e minha tendência a acreditar..já sabe o resultado não é?
texto lindíssimo, homenagem muito bem feita, por sinal!
E te dou razão quando diz que o compositor das nossas vidas sabe o que faz...com certeza Ele sabe!
Beijos e abraços petecaa!!!

Anônimo said...

Bela homenagem...admiro quem consegui sentir a música assim...
Beijos!

Jac C. said...

Tem música na sua vida, né? E ela se faz presente sempre que pode no seu blog através de belos relatos.
Bjs rumo ao Hexa e bom fim de semana!

Anônimo said...

Olá querida...
Me perdoe a ausência prolongada...
Estou explicando tudo em meu post atual...
Teu post está muito bom... e... complemento... "deixemo-nos levar pela poesia contida nos instrumentos (e seus operadores)"...
Beijos...

Anônimo said...

Olá, isso aqui é lindo, adorei vir de novo ler seus posts
Deixemo-nos levar a vida, hei vida leva eu, leva eu...leva como o vento leva o perfume das flores...bjus

Jack Brossi said...

FALA O QUE NEH....SEM COMENTARIOS...SÓ PODE ESCREVER ALGO SEMELHANTE AKELE QUE DE ALGUM MODO SABE COMO EH QUE ISSO SURGE NEH...
É ISSO AI...PALAVRAS E MELODIAS ACHO Q NUNK LHE FALTARÃO...

BJU

Anônimo said...

O bom músico fala com os dedos, o jornalista, com o coração. Parabéns!

Anônimo said...

Li e reli. Era como se estivesse me ouvindo falar. Teu post está no exato momento dos meus pensamentos. Sabe...estou questionando mas o amor está mudando a forma, o jeito, não são mais os mesmos sentimentos. Uma pena.
Aparece no meu canto...estando lá irei te linkar pra te achar de novo.

Brena Braz said...

Linda poeta.
Lindas palavras.
Lindo texto.
Lindo blog.

 
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